terça-feira, 2 de setembro de 2014

Trabalho


O dia da Hispanidade surgiu depois da queda do regime de Napoleão Bonaparte, que tentava unir Espanha e Portugal ao “império francês”. Esta data ficou esquecida durante muitos anos. O dia 12 de outubro, em homenagem à chegada de Critóvão Colombo à América, passou a ser celebrado a partir de lei do Parlamento espanhol que instaurou a celebração da descendência hispânica. 


Hoje, a data é conhecida como “El dia de la Hispanidad”, mas já foi “O Dia da Raça” e também “Dia das Culturas”, em qualquer tempo e com qualquer nome, a data é a celebração da união das etnias, dos povos e dos continentes que foram colonizados pela Espanha. 


Nas celebrações do dia da Hispanidade promove-se eventos artísticos culturais e acadêmicos que valorizem a cultura das comunidades de Língua espanhola além de se degustar diversos pratos típicos como: Gaspacho - que é uma sopa fria de verduras; Nachos - massa de doritos com queijo cheddar e temperinho verde, Tacos - massa de milho com recheio de carne moída, Tomates Recheados - com maionese de alho e ovos, e Chilli - feijão com carne moída de porco e gado, Paela - arroz temperado com açafrão, cozido numa frigideira com frutos do mar, frango, coelho, carne de porco, tomate, pimentão e feijão seco e fresco. É também servida Sangria, bebida típica feita com vinho tinto, frutas, cravo e canela.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Vermelho

    Paulinho da Viola descreveu a primeira vez que viu desfilar a Portela. Aquele azul que passou em sua vida não era do céu, não era do mar. Era um azul só delas, da Portela e da sua lembrança. Um azul exclusivo, inexplicável, único, que nunca mais seria o mesmo. Mas não era o azul que jamais se repetiria - era a sensação de vê-lo pela primeira vez. A mesma sensação que eu tive na primeira vez em que fui a um jogo de futebol, um Grenal, e vi entrar em campo o Internacional. O vermelho da sua camiseta não era do sangue, não era do fogo. Eu nunca tinha visto um vermelho assim antes, e nos sessenta anos seguintes nunca o vi da mesma maneira outra vez. Um vermelho só reproduzível na memória. Um vermelho inaugural, inédito, como o de um rio de lava no começo do mundo. E o meu coração se deixou levar.
    A família tinha voltado a Porto Alegre depois de dois anos passados nos Estados Unidos, e eu, com nove anos, precisava escolher um time como forma de reintegrar nos hábitos da terra. O Inter era o time mais em evidência no estado na época. Ganhava todos os campeonatos e era apelidado de Rolo Compressor, tal a sua vantagem sobre os outros. Escolhi o time vencedor. Mas não foi só isso. Nos Estados Unidos, eu tinha contribuído para a vitória das forças aliadas contra as forças do Eixo, matando japoneses e alemães aos milhares nos meus jogos de guerra solitários. O Grêmio, naqueles tempos, só aceitava jogadores brancos, e sua torcida era quase toda branca. Não escolhi torcer pelo Inter para continuar defendendo a democracia por outros meios, sem minha metralhadora, nem por qualquer manifestação precoce de consciência social - mas que era bom torcer pelo time dos negrinho contra o time dos alemão, era. Ainda mais que os negrinho ganhavam sempre.
    A política racial do Grêmio acabou com a contratação do Tesourinha, que fora o maior ídolo do Internacional e meu maior ídolo pessoal. Hoje os times e as torcidas de Inter e Grêmio se equivalem em variedade racial e social. Mas, quando fui ao meu primeiro Grenal, Tesourinha ainda era do Inter (depois passou pelo Vasco) e o Grêmio ainda era o time dos alemão. Mas foi tamanho o deslumbramento com minha primeira visão das camisetas vermelhas entrando em campo que esqueci um fato importante daquele jogo: o Grêmio ganhou o Grenal e foi campeão de 1946. Sempre convivemos assim: uma torcida esquecendo ou tentando diminuir as glórias da outra. Nunca reconhecemos o campeonato do mundo vencido pelo Grêmio em Tóquio, por exemplo. Era outra competição, outro mundo. Tóquio passa a valer alguma coisa a partir de agora.
    E já posso imaginar aquele vermelho entrando em campo, em Tóquio. Um vermelho como nenhum outro, um vermelho primal como o das minhas lembranças de menino, mas inaugurando outra história.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O time do boteco

    A cena se incorporou ao folclore do futebol brasileiro. Escolhido para ser o técnico da seleção brasileira que disputaria a Copa do Mundo no México em 70, João Saldanha convocou a imprensa e anunciou o time. Não quem seria convocado, não quem seria experimentado - o time, os onze. Apenas repetiu, oficialmente, o que diria numa mesa de bar, se lhe pedissem a sua seleção. Outros na hipotética mesa escolheriam outras seleções, mas ninguém hesitaria. Todos teriam um nome para cada posição, e uma seleção pronta. A do Saldanha só ficou na história porque, com a mesma naturalidade com que a anunciava no bar, anunciou para o mundo, como técnico. Dando inveja, claro, a todos os outros escaladores de boteco do país, que tinham a sua seleção óbvia mas não tinham o poder de convocá-la.
    Muitos mitos da seleção de 70 não resistiriam ao tempo, ou foram desmentidos ou foram convenientemente esquecido. Saldanha disse ou não disse que cortaria o Pelé porque o Pelé era míope? Largou a seleção porque os militares no poder, a começar pelo presidente Médici, estavam se intrometendo demais no seu trabalho, ou não foi bem assim? Não importa. O que deixou mais saudades - porque nunca tinha acontecido antes e nunca mais se repetiu - foi a simples anunciação como primeiro ato da sua regência, do time que ele tinha na cabeça, do goleiro ao ponta-esquerda. O time do Zagallo que ganhou no México não foi o do Saldanha, mas isso também não interessa. Entre o boteco e o fato, entraram as circunstâncias, essas coisas serpentinosas em que a gente vive se enrolando.
    O triste é que hoje não existe mais a escalação espontânea. A escalação de boteco nunca foi tão mal informada, e irrelevante. O futebol mudou no campo (nem ponta-esquerda existe mais) e fora dele. Ninguém consegue acompanhar o que os jogadores brasileiros fazem no exterior para merecer a seleção - ou saber que interesse oculto existe por trás de uma convocação. O Brasil de 70, com Médici e tudo, era um pouco mais íntimo. E na falta do time mais ou menos óbvio, na falta do time do boteco, o que se vê é isto: uma seleção em constante experimentação, com um elenco para cada ensaio.
    Não se deve valorizar demais a sabedoria popular no futebol. Muitas vezes os favoritos do público não convêm à seleção, e há exemplos recentes de implicâncias do público que deram certo. Mas a escalação do boteco valia pelo menos como uma referência. Bem ou mal, o boteco sabia. Hoje, o boteco nem desconfia.

sábado, 29 de outubro de 2011

Sem bola

    Nada melhor para discutir futebol do que a ausência do futebol. Isto é, do que aqueles períodos em que tudo é preparação e expectativa, tudo é especulação, e portanto tudo é teoria. Quando começa o futebol, as especulações passam a correr o risco de desmoralização instantânea, e nenhuma tese definitiva está livre de ser destruída por uma bola espirrada. É quando não há o perigo do desmentido pela prática que a teoria prospera. E, assim como os jogadores precisam aprender a jogar sem a bola, comentaristas têm que saber comentar sem a bola. Inclusive para ter assunto quando a bola está parada.
    Acho que o debate tático melhorou desde os tempos em que tudo se concentrava na figura do "cabeça de área", que nem chama mais assim. Quem justificava a presença de um "cabeça de área", hoje volante de contenção (pelo menos o nome melhorou), na seleção era considerado defensivista, retranqueiro e até antibrasileiro, na medida em que queria desfigurar o nosso alegre futebol, europeizando-o. Quem desprezava o "cabeça de área" era chamado de romântico, um dos piores epítetos no vocabulário do prolongado debate. Felizmente, nenhum treinador brasileiro nos últimos, o quê?, 40 anos - nem "ofensivistas" notórios como o Telê Santana - prescindiu de um jogador cuja função na seleção, disfarçada ou não, era a de guarda avançada da grande área. E a pressão contra o "cabeça de área", sempre identificado como sinônimo de "cabeça de bagre", não era pouca. Ouvia-se muito de torcedores entusiasmados que bastava escalar cinco craques na frente, o "dream-ataque" do momento, para que o resto da seleção se tornasse supérflua, a começar pelo "cabeça de área". Era a teoria do levamos quatro mas fazemos sete.
    Hoje um Emerson ainda provoca dúvidas como as que provocaram Batista Dunga, por exemplo, e na base dessa discussão sobre usar ou não o Robinho com o sacrifício de alguém da contenção também há vestígios do velho debate. Mas a mecânica do jogo e as funções táticas mudaram, a discussão se sofisticou e, se realistas e românticos ainda não se reconciliaram completamente, pelo menos não brigam mais por uma posição só.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

A síndrome

    Vanderlei cumpriu a promessa. Anunciou que o time seria ofensivo e eu, pelo menos, me senti ofendido pelo time. Mas é quase uma danação: escala-se o time para a promoção de imprensa, para a excitação da torcida e para a motivação de todos, e na hora dá tudo errado. Mesmo quando dá certo, a realidade nunca é igual à expectativa. Nenhum "ataque de sonho" anunciado na véspera funciounou como o anunciado, até hoje, no Brasil. Todos os ataques de sonho de que se tem memória ganharam essa classificação depois, na lembrança. Alguns até começaram a vida sob suspeição. Tostão e Pelé e Gerson e Rivelino no mesmo time não podia dar certo, lembra? Hoje sonhamos com um ataque como aquele.
    O fato é que a notícia que o time vai ser mais ofensivo (com tudo que isso implica: gols, espetáculo, alegria, o verdadeiro futebol brasileiro etc.) geralmente é prenúncio de decepção. Existe uma tentação antiga que ronda os treinadores brasileiros, a síndrome dos dois centroavantes. Chega o momento numa partida difícil em que o treinador atira todos os planos para o ar e manda entrar o segundo centroavante. A lógica primária é botar mais gente dentro da área, e seja o que Deus e a bola espirrada quiserem. Significa o abandono da organização e de qualquer pretensão tática e poucas veze dá resultado. A escalação de um time "ofensivo" é uma espécie de racionalização da síndrome. O time já começa o jogo num clima de dois centroavantes, entregue à inspiração instantânea de cada atacante. Até agora ninguém, muito menos o jogador e o técnico, pode dizer qual era a função do Ronaldinho no jogo de quarta contra o Uruguai, por exemplo. Suas ordens eram de entrar em campo e ser ofensivo. Ninguém, aparentemente, lhe disse como.
    Uma das obviedades do futebol, que nunca é demais repetir, é que o número de atacantes é um dado apenas jornalístico, pois dtermina como será publicada a escalação. O importante não é quantos na frente, mas como - a mecânica da chegada. E isso se combina, não se improvisa na hora.

Infantilidades

    Só o futebol permite que você sinta aos 60 anos exatamente o que sentia aos 6. Todas as outras paixões infantis ou ficam sérias ou desaparecem, mas não há uma maneira adulta de ser apaixonado por futebol. Adulto seria largar a paixão e deixar para trás essas criancices: a devoção a um clube e às suas cores como se fosse a nossa outra nação, o desconsolo ou a fúria assassina quando o time perde, a exultação guerreira com a vitória. Você pode racionalizar a paixão, e fazer teses sobre a bola, e observações sociológicas sobre a massa ou poesia sobre o passe, mas é sempre fingimento. É só camuflagem. Dentro do mais teórico e distante analista e do mais engravatado cartola aproveitador existe um guri pulando na arquibancada. E esta nossa infantilidade compartilhada, de certa forma, redime tudo. Até o Eurico Miranda.
    E também é a culpada pelo futebol profissional no Brasil ter vivido, até hoje, nesta doce irresponsabilidade sem cobrança e sem castigo. Nenhum clube de futebol precisa ser regido de uma forma legal e contábil porque nenhum existe no mundo real, adulto e fiscalizável. Todos contam com a tolerância carinhosa dedicada a crianças brincando de gente grande, ou de gente grande sendo criança. E a brincadeira fica cada vez maior e mais longe do controle. Nos últimos anos o comércio de jogadores de futebol, incluindo a repartição da propriedade do passe entre cluber e empresários e investidores, transformou-se num dos mais rentáveis negócios clandestinos do mundo, envolvendo trampas e tramoias que só podem ser imaginadas, já que muito pouco se torna público.
    É muito saudável, portanto, que finalmente se investigue seriamente os negócios do futebol e se exija comportamento adulto dos seus responsáveis e correção fiscal e transparência dos clubes.
    Desde, claro, que seja dos outros e não do Internacional ou do Botafogo.

Do baú

    O futebol é, basicamente, o mesmo desde uqe foi inventado. Não há muito o que fazer para mudá-lo, fora detalhes. Com a lâmina de barbear acontece a mesma coisa. O modo de jogar futebol pode ser completamente diferente de hoje do que era há anos, como a aparência dos aparelhos de barbear de hoje pouco tem a ver com a da época em que Mr. Gillette inventou sua prática lâmina, mas a ideia fundamental permanece inalterada, e inalterável. E, no entanto, todos os anos os fabricantes de aparelho de barbear precisam apresentar um produto novo. Todos os anos os departamentos de marquetchim pedem aos departamentos de pesquisa que reinventem o aparelho de barbear, para terem o que anunciar. Duas lâminas, três lâminas, cinco lâminas, lâminas flutuantes, lâminas convergente, lâminas divergentes, lâminas musicais - qualquer coisa para que o aparelho do ano passado fique obsoleto e a novidade seja irresistível. Da mesma forma, todo técnico, quando assume um novo time, deve trazer a sugestão implícita de que vai reinventar o futebol.
    As razões dadas para trocar de técnico são muitas. O técnico que sair perdeu o ambiente, perdeu a confiança, perdeu a razão - e é sempre mais fácil trocar um técnico perdedor do que um time inteiro. Mas a razão verdadeira é o desejo secreto de que o novo técnico reúna os jogadores no meio do campo, abra sua sacola e tire lá de dentro - tará! - um outro jogo. Um futebol inédito. Um futebol que ninguém mais tem, e, portanto, invencível. O milagre ainda não aconteceu, mas todo técnico de futebol é uma promessa do futebol reinventado. Por isso eles levam vidas de homens santos, perambulando pelo país entre guaridas temporárias, sabendo que é pouco o tempo entre a adoração e o desmascaramento, a adulação e o apedrejamento. Ou ele é um salvador ou é um charlatão. Não tem o recurso do meio-termo.
    Nem o recurso do bom-senso. O novo técnico não pode dizer para o time e a torcida que o futebol é um aborrecido jogo de repetição e paciência, decidido, muitas vezes, por um ponta-esquerda que nem foi escalado, o Fortuito. Não pode enfatizar que o futebol precisa ser jogado com o pé, sabidamente um órgão tão dispersivo e difícil de controlar que poderia ser do governo. Nem lembrar o fato de que o adversário colocará em campo, perversamente, um time com o mesmo número de jogadores que também querem a bola, só para atrapalhar. Seria a mesma coisa que um fabricante de aparelhos de barbear fazer uma cara campanha publicitária para anunciar nada de novo. Dizer que não há mais o que fazer, que o aparelho de barbear chegou ao limite das suas possibilidades de mudança, que o deste ano será sensacionalmente igual ao do ano passado.
    Impensável.